Durante o dia de hoje recebi (e sigo recebendo) incontáveis
mensagens de carinho, de afeto, de reconhecimento, de encorajamento, de
motivação... Espero conseguir responder a todas (algumas pessoas disseram que
não conseguiram postar na minha time line no Facebook e, por isso, recebi a
maioria privadamente in box – melhor, pois assim não provoca o recalque). E como
forma de agradecimento gostaria de fazer algumas reflexões breves.
Vivemos tempos difíceis (e quando foi que não vivemos, não é
mesmo?). Aquelas e aqueles que não tiveram o privilégio de contar com a
segurança das instituições e suas falsas promessas de que um dia seriam boas o
suficiente para que as poucas migalhas se transformassem em direitos perenes
sempre souberam. Já aqueles que sempre se beneficiaram delas possivelmente não
entendam e sigam esperando que as crises se resolvam por dentro dessas mesmas
instituições e desses mesmos sistemas.
Não há e não haverá saída fácil e tranquila. Não dependerá
de um nome, de um partido ou de um processo. Não há quem possa representar a
nossa esperança, pois a nossa esperança somos nós mesmas e nós mesmos. Os
sistemas que se chamam democráticos comprovadamente nunca o foram efetivamente
como expressão do poder popular e não é à toa que se vergam tão facilmente aos
ventos conservadores e fascistas que sustentam projetos de sociedade seminalmente
excludentes e opressores.
Tem gente que acha antiquado e simplista falar de
capitalismo. Mas, seja lá qual o adjetivo que se acrescente ou se subtraia,
nenhum sistema político que garanta a liberdade os direitos de todas as pessoas
e do mundo em sua biodiversidade poderá ser construído ao lado da ideia de que
é legítimo que pessoas ou grupos acumulem capital, bens e propriedades. O acúmulo
sempre será fruto de exploração e, a propriedade, de exclusão. O lucro,
expressão da ganância e ferramenta para exercício do poder violento exercido
sobre outras e outros.
Resistência e luta não nos são estanhas. É assim que temos conseguido
sobreviver. Às vezes nos beneficiando de algum privilégio aqui e ali e quase
achando que temos efetivamente o poder de participar dos processos de decisão
sobre o rumo das coisas. Mas, muito rapidamente nos damos conta de que as
nossas “diferenças” rapidamente se convertem em desculpas para justificar o
nosso silenciamento.
Muito da minha trajetória foi construída sobre o fato de eu
ser homossexual, gay, viado. Não sei se eu tive muita escolha com relação a
isso e procurei encarar esse desafio da melhor maneira que pude. A cada dia eu
sigo experimentando as implicações dessa realidade, muitas vezes me canso e
muitas vezes decido seguir em frente. Ao longo dessa caminhada também fui
entendendo que as mesmas estruturas, sistemas e instituições que querem prender
o meu corpo também incidem sobre os corpos de mulheres, pessoas de diferentes
raças e etnias, origens, religiosidades, gerações, habilidades, formatos e
jeitos... O empobrecimento (questão de classe) é a evidência mais contundente e
que unifica processos.
Por isso, por mais que os tempos sejam difíceis e não haja
saída fácil, seguiremos resistindo e lutando com a força e a alegria
despudorada de quem não tem medo de perder aquilo que sabe que não lhe
pertence. Seguiremos construindo nossa unidade e demonstrando nossa capacidade
organizativa pra enfrentar a violência com que ferem nossos corpos. Seguiremos
imaginando e sonhando com aquilo para o que talvez ainda não haja nome, mas
será o tempo e o lugar onde todas e todos poderão viver integralmente e
realizar-se como pessoas. Precisaremos de tempo, resistência, confiança, força,
coragem, ousadia. E confusas e confusos venceremos!
Por enquanto vamos de #foraTemer por #nenhumdireitoamenos,
#eleiçõesgeraisediretasjá trabalhando pela construção do #poderpopular.
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