Que tá difícil de lidar com a cultura
da homofobia nos discursos pseudopolíticos dessa nação!
Mas vamos lá!
Há algumas semanas, após o crime de
estupro perpetrado contra uma adolescente de 16 anos por mais de 30 homens
circulou uma charge que retratava Michel Temer vestido de mulher “bela,
recatada e do lar” questionando Romero Jucá representado como uma mulher com um
vestido curto por ter dito e feitos coisas que não devia ter dito e feito.
Então escrevi uma breve nota em 7 pontos refletindo sobre como esse tipo de representação perpetuava a
cultura do estupro sendo questionada em todos os cantos – e aprovada em outros.
A crítica política vinha revestida do (pior) heterossexismo que
inferioriza mulheres e todas as pessoas que não se encaixam em seus padrões.
Então o massacre na boate Pulse, em
Orlando – EUA, provocou nova comoção mundial diante do assassinato de 50
pessoas, durante a realização de uma festa latina na casa noturna identificada
como LGBT. Entre as várias informações que circularam sobre o evento, sobre o
autor do crime e sobre suas motivações mencionou-se que ele havia ficado muito
irritado em certa ocasião por ver dois homens se beijando.
Qual não foi minha surpresa que, no
dia em que o relatório que pede a cassação do mandato de Eduardo Cunha foi
aprovado pela Comissão de Ética da Câmara de Deputados/as, em meio a comemorações
pela aparente vitória das “instituições democráticas” circulou uma nova charge.
Dessa vez, Michel Temer e Eduardo Cunha aparecem se beijando na boca. Quero
pressupor que se trata de uma crítica a ambos os políticos e suas práticas
antidemocráticas e criminosas.
E vamos nós de novo fazer ataques a
figuras públicas usando (a pior) heteronormatividade que identifica supostos
criminosos com dois homens se beijando, pois não há forma mais clara de
ridiculariza-los – e promover a cultura da homofobia! Imagino que, nesse caso,
nãos seja preciso desenhar ponto a ponto... mas me disponho a faze-lo caso
fique alguma dúvida.
O colega e amigo Hugo Córdova
escreveu um brilhante texto mostrando a articulação de diversas questões no massacre
de Orlando,
incluindo a forma como um certo discurso sobre a sexualidade é articulada com
outras formas de preconceito e discriminação. A política (assim como a
teologia) são sempre um discurso sexual. Mas uma democracia verdadeira não será
construída sem a crítica sexual dos atuais sistemas chamados “democráticos”. A
radicalização da democracia passa, necessariamente, pelo desmonte da cultural
heteropatriarcal que segue ceifando vidas no Rio de Janeiro, em Orlando, e na
casa do vizinho.
O incômodo que provoca um beijo
entre dois homens (como gesto de carinho, afeto, amor) e serve de justificativa
para matar ou discriminar homossexuais é o mesmo que entende que a outra
representação de dois homens se beijando (como crítica política) é algo que
deveria causar o riso ou um sentimentozinho de vingança satisfeita. Tá tudo no campo da cultura homofóbica.
Valei-me!
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