Na última quinta-feira (18/07/13), o Movimento #naruasaoleo
organizou um ato chamado de Missa de Sétimo Dia da Democracia, lembrando da
violência moral e física perpetrada pelas autoridades de São Leopoldo contra
os/as manifestantes que pedem três audiências públicas: uma sobre saúde, uma
sobre transporte coletivo e uma sobre a reforma administrativa (esse último
tema discutido e aprovado na dita sessão e entrementes anulada pela justiça).
Os/as manifestantes simularam um cortejo fúnebre, vestidos/as
de preto, com as bocas cobertas por fitas de esparadrapo, com flores e cartazes
ao som da marcha fúnebre. A reação foi imediata: homens sem identificação
chamavam o ato de palhaçada, ameaçavam verbalmente os/as manifestantes e mesmo
entre vereadores/as e outras pessoas presentes na sessão sentia-se o
desconforto diante do silêncio dos/as manifestantes. A fala, agora estava do
outro lado: pessoas contrárias ao movimento gritavam, xingavam, aplaudiam e
mesmo vereadores/as usaram o espaço para desabafos e reflexões confusas e
incoerentes. Nesse caso, nem a Guarda Municipal e nem a Brigada Militar (essa
última ausente) tomaram nenhuma iniciativa.
O grupo permaneceu no plenário da Câmara, durante toda a
sessão, em silêncio. Um silêncio ensurdecedor. Uma ameaça concreta a quem detém
o poder da palavra, da decisão, de silenciar através de meios ilegais e violentos.
Além dos grunhidos de algumas pessoas contrárias ao Movimento e suas
reivindicações (com base no que mesmo?) o silêncio, mais uma vez, foi quebrado
por Angélica (a mesma que tinha estado no acampamento em frente à praça e onde
falou e reclamou e ainda me acariciou quando eu estava me recuperando do ataque
com spray de pimenta). Ela falou alto e claro. Rompeu o silêncio. Reclamou do
sistema de esgoto do local onde mora e exigiu providências.
Angélica não tem participado regularmente das atividades do
acampamento, mas sempre que vem é bem-vinda. Ela não estava ali falando em nome
do movimento, nem foi instruída a fazer essa entrada triunfal. Mas ela me
representa e acho que também representa o Movimento. Foi silenciada com a fala
do presidente que afirmou que a sua demanda seria anotada e encaminhada ao
Executivo Municipal e escoltada por um guarda. Ah Angélica, você realmente sabe
o tempo de estar calada e o tempo de falar.
Os/as manifestantes seguiram em silêncio, alguns/as
acompanharam Angélica na saída. Encontrei ela embaixo da lona e continuava falando
coisas que nem todo mundo entendia. E o silêncio continuou a perturbar. Entre
as reações vocais de quem não fazia parte do Movimento, um longo desabafo do
Presidente da Câmara. Quase comovente, não tivesse ele afirmado três vezes que
era vereador de primeiro mandato e pelos menos três vezes terminado suas
afirmações com “em nome de Jesus”. Assim como está escrito: “nesta mesma noite,
antes que o galo cante, tu me negarás três vezes” (Mateus 26.34). O silêncio da
morte, antes da ressurreição, faz com que os que se pretendem mais fieis se
percam em seu próprio medo de enfrentar os sistemas de opressão e colocar-se ao
lado da justiça.
Na mesma noite foi votada e aprovada a realização da segunda
audiência solicitada (sobre transporte público), pois a sobre saúde já tinha
sido aprovada anteriormente. E agora, com a anulação da sessão que votou e
aprovou a reforma administrativa sem o direito de discussão pública com a
comunidade e sob forte repressão policial, será tempo de falar Srs. Vereadores
e Sras. Vereadoras? Ou tentarão com seus esquemas e astúcias demoníacas manter
o povo novamente em silêncio. O Movimento #naruasaoleo continua afirmando, ao
megafone ou em silêncio: é hora de falar! Queremos audiência pública!
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