As instituições passam - as lutas continuam! Comunicado de encerramento das atividades da ONG ASPA – Apoio, Solidariedade e Prevenção à AIDS
As instituições passam - as lutas continuam!
Comunicado de encerramento das atividades da ONG ASPA – Apoio,
Solidariedade e Prevenção à AIDS
No dia 06 de julho de 2013, no
Espaço Diversidade da Faculdades EST, um pequeno grupo de associados/as,
amigos/as e voluntários/as da Organização Não-Governamental (ONG) Apoio,
Solidariedade e Prevenção à AIDS (ASPA), em Assembleia, decidiram pelo
encerramento definitivo de todas as atividades e extinção jurídica dessa
organização. As decisões e encaminhamentos para que essa decisão seja efetivada
constarão na Ata que será lavrada e registrada em Cartório.
Enquanto associados/as, amigos/as
e voluntários/as, no entanto, consideramos importante emitir esse comunicado
tanto para tornar pública essa decisão, quanto para refletir brevemente sobre a
história do ASPA, as circunstâncias que levam ao seu fechamento e o significado
dessa decisão para nós e para o enfrentamento da AIDS nos diversos espaços em
que a organização atuou durante sua existência. Pelo carinho, pelo compromisso
e pela memória julgamos ser nossa responsabilidade, enquanto pessoas que
tomaram essa decisão final, compartilhar alguns fatos, ideias e sentimentos que
experimentamos nesse processo.
O ASPA foi fundado no início da
década de 1990 por um grupo de estudantes de teologia da Escola Superior de
Teologia (hoje Faculdades EST) sensibilizados/as, incentivados/as e apoiados/as
pelo Pastor e Professor Richard Wangen (in
memoriam). Movidos/as pelo seu compromisso com uma sociedade justa e
igualitária – o maior legado do próprio Pastor Wangen nas diversas frentes em
que atuou – esses/as estudantes assumiram o desafio de enfrentar a epidemia de
HIV e AIDS em um momento e em um contexto totalmente adverso, aprendendo também
que o enfrentamento da epidemia implica o enfrentamento de todas as situações
que fazem com que indivíduos e grupos se tornem vulneráveis – como viemos a
falar mais recentemente – à infecção, no processo de tratamento e na vida
cotidiana enquanto pessoas com HIV ou afetadas por essa realidade. Nesses anos
todos, sexualidade, violência, sexismo, homo-lesbo-transfobia, uso de drogas,
discriminação, prostituição, patentes de medicamentos, políticas públicas,
classismo, saúde, segurança, prevenção, preconceito, racismo, informação...
foram algumas das palavras e realidades que estiveram envolvidas transformando
o enfrentamento à AIDS numa luta por justiça social em seu mais amplo sentido.
Nas suas mais de duas décadas de
existência, o ASPA contou com diversos/as parceiros/as que financiaram suas
atividades, incluindo voluntários/as e doadores/as individuais, grupos e
instituições religiosas, administrações e órgãos públicos locais, nacionais e
internacionais. Passaram pela instituição, atuando em seus projetos e
atividades, além de estudantes de teologia, muitos/as dos/as quais hoje são ministros/as
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), estudantes e
profissionais de outras áreas, pessoas dos bairros e comunidades de São
Leopoldo, intercambistas. O ASPA atuou nas mais diversas áreas e temas,
servindo à comunidade através de serviços e atividades diretas, realizando
trabalho de advocacy, dialogando,
pressionando e cobrando de governos e autoridades em todas as esferas, mas
também empresas privadas, instituições de ensino e pesquisa entre outras, que
se comprometessem e agissem pelo enfrentamento da epidemia e suas causas,
produzindo conhecimentos e construindo alternativas para as pessoas infectadas
e afetadas por ela e para a sociedade como um todo. Nesse caminho, fizemos
muitos/as amigos/as e encontramos muitos/as companheiros/as, mas também
perdemos muitos deles/as.
Encerrar uma organização com essa
trajetória, amplamente reconhecida, não é um processo fácil, principalmente
quando sabemos que, tanto a epidemia de HIV e AIDS, quanto as demais questões
nela implicadas, seguem sendo desafios a serem enfrentados e superados,
exigindo estratégias e ações renovadas diante das mudanças políticas,
econômicas e culturais em âmbito local, nacional e internacional. Talvez por
isso esse processo já venha se arrastando há alguns anos com várias tentativas
de retomar as atividades e tentar reorganizar a entidade. O fato é que desde
2012 o ASPA não realizou nenhuma atividade ou representação institucional
continuada reconhecida pelas pessoas ainda ligadas à instituição, tendo suas
últimas ações sido realizadas majoritariamente dentro da estratégia de Redução
de Danos por um grupo de voluntários/as. Buscava-se, por um lado, alternativas
para a sua continuação e, de maneira mais concreta, encaminhar questões
práticas e burocráticas tendo em vista o seu fechamento. Contribuíram para isso
questões conjunturais externas e internas que, no julgamento das pessoas
presentes na Assembleia acima mencionada, tornaram inviável a manutenção da
organização.
Ao comunicar o fechamento do
ASPA, julgamos importante relembrar e prestar essa homenagem à história da
organização e a todas as pessoas que fizeram parte dela e que tiveram suas
vidas tocadas por ela, muitas das quais perderam sua vida no caminho. Ao mesmo
tempo, reafirmar o nosso compromisso com a cidadania plena, os direitos humanos
e a justiça integral para todas as pessoas em todos os lugares. Que o legado
deixado por essa instituição seja a lembrança de que o sofrimento e a dor
causados pela AIDS seguem nos convocando enquanto sociedade e exigindo ações
concretas e corajosas e que o engajamento e a luta têm o poder e a capacidade
de transformar a vida e as relações.
São Leopoldo, julho de 2013
Jaqueline da Rosa, Carolina Bohn,
Lisiane Dornelles, Elissandra Siqueira, Paola Lazzarotto, André Kist, André S.
Musskopf, Ricardo Brasil Charão, Marie Ann Wangen Krahn, Ingeborg Eichwald.
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