Mais uma vez é 28 de junho... e lembramos daqueles e
daquelas que nos antecederam na caminhada por libertação. Não somente aquelas
travestis, gays, lésbicas, bissexuais e pessoas sexualmente diversas que enfrentaram
a polícia num bar de Nova Iorque, mas todos e todas que se revoltaram antes e
depois, cotidianamente contra o preconceito, a discriminação e a violência que
sofremos de todos os lados.
Em tempos de manifestações e protestos por todo o país nós
estamos lá. Quando gritamos por um sistema de saúde de qualidade, denunciamos
também que nossas identidades diversas têm impedido um acesso digno aos
serviços de saúde. Quando gritamos por um sistema de transporte público
gratuito e de qualidade, denunciamos também que nós estamos nas filas de ônibus
e metrô, sofremos assédio e somos discriminados/as e impedidos/as de circular
livremente pelas nossas cidades. Quando gritamos por segurança pública cidadã,
contra as diversas formas de repressão, também denunciamos que muitos e muitas
de nós ainda são vítimas de múltiplas violências nessas mesmas ruas, expressões
da homofobia, da lesbofobia e da transfobia. Quando gritamos contra a
corrupção, também denunciamos as várias formas de mau uso do dinheiro público
que fazem com que as políticas públicas para a população LGBT sejam barganhadas
em troca de apoios e favores. Quando gritamos pela Reforma Agrária, também
denunciamos que assim como nossos corpos são expropriados e alienados dos
frutos de nosso trabalho e usados quando convém, o capitalismo da propriedade
privada e das grandes corporações tem definido – e restringido - as nossas
possibilidades de ocupação da terra e dos meios de produção. As manifestações e
protestos de todos e todas também são as nossas manifestações e protestos!
E, além disso, gritamos contra a presença de Marcos Feliciano
na Presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias na Câmara dos/as
Deputados, contra o decreto legislativo que quer revogar a Resolução do
Conselho Federal de Psicologia de 1999 (sugerindo que a homossexualidade possa
ser “revertida”), bem como contra outros projetos, práticas e discursos que querem
nos manter dentro dos armários do heterosexismo. Gritamos também a favor do
casamento igualitário, da aprovação da lei contra a homofobia (PLC 122), de
políticas públicas de combate à homofobia, lesbofobia e transfobia e promoção
da cidadania LGBT, pois somos cidadãos e cidadãs desse país e do mundo inteiro.
E sabemos que em nosso grito também está o grito de tantos outros e tantas
outras que têm saído às ruas nesses dias. Porque também somos trabalhadores e
trabalhadoras, mulheres, negros e negras, indígenas, pessoas com deficiências,
sem-terra, sem-teto, sem-emprego, jovens, adultos/as e idosos/as que querem um
outro mundo.
Já fomos presos/as como criminosos/as, já fomos
exorcizados/as como pecadores/as, já fomos tratados/as como doentes. A tudo
isso resistimos e continuamos resistindo através da afirmação do ORGULHO de nos
construirmos de maneiras diversas. Porque o que realmente está em jogo não é
apenas o direito de decidirmos quem somos e como vivemos e amamos, mas a forma
como nos relacionamos em todos os âmbitos de interação social e a forma como o
poder é exercido para garantir os privilégios de poucos. Nosso sexo é político
e econômico. E o nosso ORGULHO é a forma de enfrentar todos os dias, em todos
os lugares, os sistemas e estruturas que querem nos reduzir a uma fórmula
penal, teológica e/ou médica. À criminalização respondemos com o ORGULHO de
nossas práticas de justiça eróticas restauradoras. À demonização respondemos
com o ORGULHO de nossas construções e vivências teológicas libertadoras. À
medicalização respondemos com ORGULHO de continuar existindo apesar de toda a
discriminação, preconceito e violência que enlouqueceria qualquer um/a.
ORGULHO é uma de nossas ferramentas de luta, para nunca nos
esquecermos de onde viemos e que tipo de sociedade queremos. A quem quer negar
a nossa cidadania respondemos com ORGULHO!
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