Nunca realmente me preocupei em saber, dentre as tantas
teorias, hipóteses e crendices disponíveis, por que sou homossexual. Não nego
que o conhecimento de fatores que determinam ou constroem as identidades
individuais ou coletivas sejam relevantes em determinadas situações. Mas seria
como buscar a justificativa para a diferenciação (em todas as suas tonalidades)
da cor da pele ou outras marcas humanas. Seria finalmente, como buscar as possíveis
causas da heterossexualidade (ela própria uma invenção), para além dos nobres
motivos de reprodução da espécie, mesmo em tempos de superpopulação.
As marcas, as histórias, as experiências, a trajetória de
cada um/a seguramente define quem se é em determinado momento da história e em
determinado contexto social. Adicione-se a isso as tão na moda questões biológicas
e genéticas que seguramente também desempenham um papel na construção de quem
se pode ser.
Prefiro o pragmatismo. Descobrir a cada instante quem sou,
quem gostaria de ser e quem posso ser no intervalo entre uma coisa e outra. Se
me atrai um homem, serei o melhor gay que puder – no exato instante em que o
desejo e a possibilidade se encontram. Se a alguém lhe chama a atenção uma
mulher, que se entregue da maneira mais intensa à sua heterossexualidade,
lesbianidade, bissexualidade ou qualquer outra forma que possa (in)definir o
status do seu desejo e/ou relação, ainda que provisoriamente.
Que seja por um instante ou pela vida inteira, mas que seja
com toda a verdade e transparência possível no complexo emaranhado que
configura aquilo que se é ou se está sendo. É possível ser muitas coisas, simultânea
ou alternadamente e é possível nunca saber exatamente o que se está sendo
quando todas as energias estão sendo gastas em tentar descobrir por que se é
algo que se parece ser. E mesmo assim é possível ser, simplesmente, aquilo que
as circunstâncias permitam que possa ser.
No final, resta sempre a pergunta: será que ele é?
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