Vou ali ver a morte de perto e já volto!


Hoje faleceu uma tia minha (irmã do meu pai) com quem nunca convivi de fato. Ela era uma dessas personagens familiares cercada de silêncios e interdições. Talvez por isso mesmo, além de ser uma espécie de obrigação familiar, pretendo ir lá, ver a morte - ou a vida, que às vezes essas duas se me misturam, por descuido ou incapacidade mesmo.
Para as pessoas menos aptas a lidarem com essas questões (e talvez essas palavras sejam o mero reflexo da minha própria inaptidão), falar assim de algo tão pessoal e íntimo possa parecer desproposital ou pelo menos indelicado.
Mas veja que ontem minha analista sugeriu justamente que eu escrevesse como forma de dizer aquilo que não pode ser entendido, e eu escrevo, para deleite de algumas e desespero de outras, ou qualquer coisa sei lá como. O tema da conversa (que sou tão louco que no processo de análise tenho longas e profundas conversas) era justamente morte, e ela sugeriu que eu escrevesse sobre "a ética do morrer". Talvez eu escreva, talvez não, e talvez esteja escrevendo.
Mas para além da questão da morte, há essa outra coisa na vida dessa minha tia que me aproxima, a sua suposta loucura, ou a loucura que inventaram pra ela pra que assim todo mundo continuasse vivendo e morrendo sem que a rotina estabelecida fosse perturbada. Ela morreu atropelada. Sorte a dela (e sorte nesse caso não é bom nem ruim, é apenas o que é, aquilo que acontece). Quanto a mim, como diria Mercedez "tantas vezes me mataram, tantas ressuscitei". Cantando ao sol como uma cigarra...
E já nem sei se preciso ir lá ver. Talvez devesse, talvez nem precise. Vou ver...
...
Esqueci de dizer que eu fumo, bebo coca-cola, como pizza congelada e a minha caminhada matinal... bem, essa já deixou de fazer parte da minha agenda há algum tempo. A minha urgência de viver (ou a minha loucura, tanto faz) me faz flertar com a morte o tempo todo, essa morte que se vai vivendo aos poucos, porque não se tem medo de encará-la, porque ela está viva!

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