Hoje
faleceu uma tia minha (irmã do meu pai) com quem nunca convivi de fato. Ela era
uma dessas personagens familiares cercada de silêncios e interdições. Talvez
por isso mesmo, além de ser uma espécie de obrigação familiar, pretendo ir lá,
ver a morte - ou a vida, que às vezes essas duas se me misturam, por descuido
ou incapacidade mesmo.
Para as
pessoas menos aptas a lidarem com essas questões (e talvez essas palavras sejam
o mero reflexo da minha própria inaptidão), falar assim de algo tão pessoal e
íntimo possa parecer desproposital ou pelo menos indelicado.
Mas veja
que ontem minha analista sugeriu justamente que eu escrevesse como forma de
dizer aquilo que não pode ser entendido, e eu escrevo, para deleite de algumas
e desespero de outras, ou qualquer coisa sei lá como. O tema da conversa (que
sou tão louco que no processo de análise tenho longas e profundas conversas)
era justamente morte, e ela sugeriu que eu escrevesse sobre "a ética do
morrer". Talvez eu escreva, talvez não, e talvez esteja escrevendo.
Mas para
além da questão da morte, há essa outra coisa na vida dessa minha tia que me
aproxima, a sua suposta loucura, ou a loucura que inventaram pra ela pra que
assim todo mundo continuasse vivendo e morrendo sem que a rotina estabelecida
fosse perturbada. Ela morreu atropelada. Sorte a dela (e sorte nesse caso não é
bom nem ruim, é apenas o que é, aquilo que acontece). Quanto a mim, como diria
Mercedez "tantas vezes me mataram, tantas ressuscitei". Cantando ao
sol como uma cigarra...
E já nem
sei se preciso ir lá ver. Talvez devesse, talvez nem precise. Vou ver...
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